O cooperativismo como primeiro escalão de governo

6 de agosto de 2024

Vem de Alagoas um exemplo que merece ser observado com atenção pelos gestores públicos do país. 

Vem de Alagoas um exemplo que merece ser observado com atenção pelos gestores públicos do país.


O governo estadual criou a Secretaria Executiva de Cooperativismo, Associativismo e Economia Solidária com a missão de fortalecer as cooperativas, incentivando um setor que espalha oportunidades para 120 mil cooperados e gera 6 mil empregos para os alagoanos. Hoje são 215 cooperativas em 59 municípios. A secretaria trabalha para estimular a criação de novas e consolidar as que já existem.


Os números do mais recente Anuário Coop publicado pela Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) são indiscutíveis. Municípios que contam com a presença de cooperativas apresentam um aumento de 28,4 empregos a cada 10 mil habitantes. As coops ainda aceleram o empreendedorismo: cidades que têm cooperativas exibem um acréscimo de quase 15 estabelecimentos por mil habitantes.


Nenhuma outra forma de organização distribui tanto benefício e de forma tão justa à economia de um lugar como o cooperativismo.


Em julho, estive em Maceió e acompanhei de perto o trabalho pioneiro do secretário Adalberon Sá Junior para transformar a Secretaria de Cooperativismo em legado do atual governo. Boas políticas públicas são essenciais para direcionar o desenvolvimento de um país, estado ou município. É definir com inteligência e estratégia onde os recursos públicos devem ser alocados para dar maior retorno à população.


Não se trata de intervir na economia, pelo contrário. Ao mapear o cooperativismo como um motor de vantagens competitivas para Alagoas, o governo ajuda a reforçar o modelo, estimulando as pessoas a se organizarem em cooperativas, e colhe os frutos lá na frente sob a forma de mais desenvolvimento. É aquela velha história de ensinar a pescar em vez de dar o peixe.


E os resultados já começam a aparecer por lá. Uma pós-graduação criada pela secretaria em parceria com a Universidade Estadual de Alagoas está formando os primeiros 40 alunos em Gestão de Cooperativas. Em convênio com o Instituto Federal de Alagoas, mais de 200 jovens já passaram por cursos de qualificação em cooperativismo, isso em todo o Estado. Nas escolas estaduais mentores estão sendo selecionados para ensinar o tema aos alunos do Ensino Médio.


E tem mais: através de uma chamada pública, 23 cooperativas do setor agrícola passaram a abastecer as escolas da rede estadual no ano passado, iniciativa que está sendo renovada e ampliada. A chamada deste ano já selecionou 41 cooperativas.


Rodadas de negócios ajudam as cooperativas a fechar contratos. Uma delas aproximou as cooperativas das empresas que fornecem alimentos para o sistema prisional, hospitais, UPAs, restaurantes populares e unidades de internação para menores. Neste mês de agosto, uma nova rodada apresentará a 300 dirigentes de hotéis, pousadas, bares e restaurantes as cooperativas alagoanas de agricultura, reciclagem, artesanato e turismo de base comunitária.


E o recém-criado Observatório do Cooperativismo fará o raio-x do setor em todo o Estado para embasar os próximos projetos. O estudo em parceria com universidades locais começou a mapear não apenas os números, mas os impactos socioeconômicos do cooperativismo na vida dos alagoanos.

A minha paixão pelo cooperativismo me faz acreditar que o exemplo de Alagoas tem tudo para inspirar outras iniciativas na mesma direção em todo o país, por parte de prefeituras, governos estaduais e do próprio governo federal. Afinal, uma ideia que surgiu há 180 anos e se mantém eficiente e produtiva, distribuindo riqueza ao invés de concentrá-la, precisa entrar no radar dos gestores públicos.  

4 de julho de 2024
Você conhece alguém que se informa pelo WhatsApp sem checar se a informação é verdadeira ou não? Dias atrás, um amigo recebeu um vídeo afirmando que as cooperativas crescem no Brasil porque não pagam imposto. Mais um entre incontáveis conteúdos falsos veiculados nas redes sociais – e que nunca circulam por acaso, pois sempre alguém tira proveito disso. No geral, a carga tributária que incide sobre as cooperativas no país é muito parecida com a das empresas, e não é pequena. Há variações de acordo com o ramo da cooperativa e com o estado onde está sediada. E existem peculiaridades que explico a seguir. Em uma cooperativa, todos os cooperados são donos do negócio. Se você é cooperado e decide investir R$ 10 mil em qualquer produto financeiro da sua cooperativa de crédito, e se sou cooperado e tomo emprestado os mesmos R$ 10 mil, temos o chamado ato cooperativo. Ou seja, uma transação entre cooperados, o que não é tributado pela legislação brasileira. A cooperativa é a intermediária da transação. Porém, quando o negócio envolve terceiros – se a cooperativa compra um imóvel ou contrata o serviço de um fornecedor, por exemplo –, a cooperativa paga imposto normalmente. As cooperativas pagam Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido sobre os atos não cooperativos. Ou seja, nas negociações com quem não é cooperado. E os demais tributos que recaem sobre a atividade produtiva, como ICMS, ISS, PIS e Cofins, são recolhidos rigorosamente pelas cooperativas. Há ainda o Fates – Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social, que, embora não seja um imposto, é de recolhimento obrigatório e representa pelo menos 5% das sobras líquidas apuradas pela cooperativa no exercício. O Fates se destina à prestação de assistência aos cooperados e seus familiares e, quando previsto no estatuto, aos colaboradores da cooperativa. É o cooperativismo dando retorno direto às pessoas, algo que o governo também deveria fazer com os impostos, mas sabemos que nem sempre acontece. Outra diferença das cooperativas de crédito em relação aos bancos é o risco: na condição de donos, os cooperados assumem a responsabilidade pelo resultado da cooperativa. Se ele for positivo, as sobras são distribuídas entre os cooperados. Se for negativo, arcam com o prejuízo. Na prática, o que costuma ocorrer é que as cooperativas, por serem bem administradas, distribuem esses valores aos associados, irrigando a economia local de maneira bem distribuída. No caso dos bancos, o lucro fica concentrado na mão dos acionistas. E é claro que, todo ano, cada cooperado faz a sua declaração de Imposto de Renda e acerta individualmente as contas com o Leão. No caso das cooperativas de crédito, só para dar um exemplo, paga imposto sobre os ganhos que venha a obter com operações financeiras. Há ainda incidência direta de Imposto de Renda aos cooperados no pagamento de juros ao capital. Quando o conselho da cooperativa decide remunerar o capital social, o cooperado paga o imposto na sua declaração anual. Felizmente, o meu amigo compartilhou o episódio comigo e pudemos esclarecer a informação. Se há uma notícia na qual você pode confiar é que as cooperativas pagam impostos, sim senhor, e geram desenvolvimento onde atuam, e não apenas no Brasil. Cooperar cria empregos, distribui renda e faz bem à prosperidade em todos os países do mundo.
10 de junho de 2024
Como o cooperativismo cuida da comunidade.
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