Escola cooperativa de SC ensina a cooperar na prática

11 de março de 2024

Escola cooperativa de SC ensina a cooperar na prática

Quando se fala em cooperativismo, as cooperativas financeiras e agrícolas costumam figurar entre as principais notícias.


Mas os ramos do movimento se adaptam às mais diversas dimensões da sociedade, e a educação, tão fundamental para a construção do futuro que sonhamos, está entre elas.


Santa Catarina é exemplo nacional desta aplicação com a Cooperativa Educacional Magna (CEM) em Concórdia, Oeste do estado. O Colégio CEM é uma cooperativa de trabalho, em que os educadores são os cooperados.


Quando um espaço educacional é uma cooperativa, isso não se resume apenas a um formato diferente de administração, restrita aos bastidores.


O Colégio CEM abraçou de forma única o compromisso de transmitir os princípios do movimento aos alunos e à comunidade: não há como entrar na escola sem tomar conhecimento de que se trata de uma cooperativa.


Para que alunos da Educação Infantil até o Ensino Médio pudessem entender na prática noções de cooperativismo e cidadania, o colégio criou a Minicidade Cooperativista, uma estrutura inaugurada em 2007 e que cresce desde então.


O projeto é um espaço físico de cerca de 800 metros quadrados, no coração da escola, que reproduz regras de trânsito e tem também pequenas construções. As minicasas representam instituições como cooperativa financeira, câmara de vereadores e casa da ciência.


Nada está ali à toa: em cada um desses espaços se desenrolam atividades que vão além do lúdico. Eles funcionam como laboratórios, em que os conteúdos da sala de aula podem ser trabalhados presencialmente.


O aprendizado é adaptado para a idade do estudante, mas nada é “de mentira”. Os alunos administram dinheiro de verdade na cooperativa de crédito montada na escola, ainda que em quantidades simbólicas.


E os administradores da minicidade, prefeito e vereadores, são alunos que se candidataram, receberam votos e se comprometeram a cumprir planos de governo.


A presidente da cooperativa, Elizeth Pelegrini, explica que, quanto menores os alunos, mais literal precisa ser a essa interação.


As crianças do maternal, por exemplo, já cruzam o espaço da minicidade para aprender a atravessar na faixa de pedestres. Quando são mais velhos, a experiência pode ficar mais abstrata.


É o que acontece com os alunos do 7º, 8º e 9º anos, que participam da Minicidade On, um projeto de marketplace da disciplina de empreendedorismo.


Os produtos e as vendas são reais, baseados em um plano de negócio, e o comércio gera recolhimento de impostos para a própria minicidade.


Este laboratório da vida real cria uma experiência rica como poucas, ao preparar os estudantes para os desafios da fase adulta, que por vezes passam longe dos temas da grade curricular nas escolas.


A minicidade é resultado de um projeto educacional único, considerado inspiração para outras instituições de ensino no país, sejam cooperativas ou não.


A iniciativa recebeu o primeiro lugar em Comunicação e Difusão do Cooperativismo no Prêmio SomosCoop de 2018.


Eu tive a oportunidade de conhecer este projeto em detalhes ao escrever o meu terceiro livro da trilogia Coopbook – Cooperativismo de A a Z, que reúne soluções inspiradas pelo movimento.


Esta é uma das tantas histórias que, pelo seu alto potencial transformador, fazem o meu entusiasmo pelo cooperativismo se renovar a cada dia.

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Vem de Alagoas um exemplo que merece ser observado com atenção pelos gestores públicos do país.
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Você conhece alguém que se informa pelo WhatsApp sem checar se a informação é verdadeira ou não? Dias atrás, um amigo recebeu um vídeo afirmando que as cooperativas crescem no Brasil porque não pagam imposto. Mais um entre incontáveis conteúdos falsos veiculados nas redes sociais – e que nunca circulam por acaso, pois sempre alguém tira proveito disso. No geral, a carga tributária que incide sobre as cooperativas no país é muito parecida com a das empresas, e não é pequena. Há variações de acordo com o ramo da cooperativa e com o estado onde está sediada. E existem peculiaridades que explico a seguir. Em uma cooperativa, todos os cooperados são donos do negócio. Se você é cooperado e decide investir R$ 10 mil em qualquer produto financeiro da sua cooperativa de crédito, e se sou cooperado e tomo emprestado os mesmos R$ 10 mil, temos o chamado ato cooperativo. Ou seja, uma transação entre cooperados, o que não é tributado pela legislação brasileira. A cooperativa é a intermediária da transação. Porém, quando o negócio envolve terceiros – se a cooperativa compra um imóvel ou contrata o serviço de um fornecedor, por exemplo –, a cooperativa paga imposto normalmente. As cooperativas pagam Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido sobre os atos não cooperativos. Ou seja, nas negociações com quem não é cooperado. E os demais tributos que recaem sobre a atividade produtiva, como ICMS, ISS, PIS e Cofins, são recolhidos rigorosamente pelas cooperativas. Há ainda o Fates – Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social, que, embora não seja um imposto, é de recolhimento obrigatório e representa pelo menos 5% das sobras líquidas apuradas pela cooperativa no exercício. O Fates se destina à prestação de assistência aos cooperados e seus familiares e, quando previsto no estatuto, aos colaboradores da cooperativa. É o cooperativismo dando retorno direto às pessoas, algo que o governo também deveria fazer com os impostos, mas sabemos que nem sempre acontece. Outra diferença das cooperativas de crédito em relação aos bancos é o risco: na condição de donos, os cooperados assumem a responsabilidade pelo resultado da cooperativa. Se ele for positivo, as sobras são distribuídas entre os cooperados. Se for negativo, arcam com o prejuízo. Na prática, o que costuma ocorrer é que as cooperativas, por serem bem administradas, distribuem esses valores aos associados, irrigando a economia local de maneira bem distribuída. No caso dos bancos, o lucro fica concentrado na mão dos acionistas. E é claro que, todo ano, cada cooperado faz a sua declaração de Imposto de Renda e acerta individualmente as contas com o Leão. No caso das cooperativas de crédito, só para dar um exemplo, paga imposto sobre os ganhos que venha a obter com operações financeiras. Há ainda incidência direta de Imposto de Renda aos cooperados no pagamento de juros ao capital. Quando o conselho da cooperativa decide remunerar o capital social, o cooperado paga o imposto na sua declaração anual. Felizmente, o meu amigo compartilhou o episódio comigo e pudemos esclarecer a informação. Se há uma notícia na qual você pode confiar é que as cooperativas pagam impostos, sim senhor, e geram desenvolvimento onde atuam, e não apenas no Brasil. Cooperar cria empregos, distribui renda e faz bem à prosperidade em todos os países do mundo.
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